Cada vez que erguia seu braço, os raios de sol que entravam pela janela refletiam no belo martelo dourado. Ao descer e atingir o ferro ainda incandescente, fagulhas respingavam para todos os lados e um som forte de ferro contra ferro fazia-se sentir ao longe.
As horas passavam lentamente e o cansaço vinha devagar. O dia já estava se pondo quando seu trabalho chegou ao fim.
Do ferro e da magia, nascia um martelo de guerra digno dos deuses. Belo e resistente, suas propriedades místicas estavam à altura de quem o portaria - pensou ele.
A porta neste mesmo instante abre-se e, em meio a fumaça da forja, aparece Blator, seguido por seu filho Crizagom.
Blator pega o martelo e o olha com cuidado e em seguida faz movimentos como que estivesse lutando contra um inimigo imaginário. Segura com as duas mãos o martelo e sorri.
Crizagom, que a tudo acompanha de longe, percebendo a alegria do pai e o belo trabalho feito no martelo, diz a Parom:
- Seu pai tem razão em ter orgulho de ti. Tão bela arma somente poderia ter sido feita por um deus.
Neste exato momento, Parom ergue seu rosto e cabelos molhados da tina que usara para se limpar.
- Bom saber que meu trabalho saiu ao agrado de seu pai.
Blator, que ainda estava de olho no martelo, volta seus olhos para aquele que poderia ser um grande guerreiro, seja pela grandeza de seu coração, seja pela força de seu corpo. Não fala nada. Vira-se de costas e sai levando consigo o martelo.
Crizagom despede-se com um aperto de mão.
Mais uma vez, a oficina torna-se silenciosa e Parom caminha para a grande janela.
De lá pode ver todo o reino celestial e o vento novamente o atinge.
O fogo da forja trepida e ele se volta para um novo trabalho.
Extratos do Livro de Maudi - Biblioteca de Saravossa.
Seu dom é transformar a matéria bruta do reino de sua mãe em objetos de fino trato e grande valor, aliados a uma capacidade mística oferecida por seu pai.
É um deus sempre ocupado com seus afazeres, mas por vezes é visto em companhia de seus pais nas horas vagas, ou com seu amor Lena nos grandes jardins do palácio.
No passado, ensinou os filhos dos deuses a nobre arte de moldar a matéria e confeccionar objetos. Dentre os seus alunos mais aplicados, estavam os anões, que seguiram e aprimoraram suas técnicas transformando-se em grandes artífices.
Nas grandes festas oferecidas pelos deuses, é presença garantida e obrigatória, onde passa longas horas a conversar com seus companheiros.
Não existe vila, aldeia ou cidade onde ele não seja cultuado em um pequeno santuário particular ou em templos públicos.
Filho amado e carinhoso com seus pais, Parom sabe a responsabilidade de sua descendência e busca sempre estar integrado dos assuntos do reino.
Muitas vezes, senta-se em sua oficina e, sozinho, pensa nas responsabilidades.
Antes de começar qualquer trabalho, passa horas a observar o material que vai utilizar: uma paciência para captar a alma do objeto e transformá-lo a seu desejo.
A despeito de sua aparência grosseira, é bem educado e atencioso.
Costuma-se fazer uma seleção de quais são os mais belos dentre os objetos expostos, que serão doados a ordem sacerdotal de Parom.
Os demais produtos são vendidos, e parte do valor arrecadado (de 50% a 80%) é doado à ordem.
Todos os produtos são abençoados, e as oficinas visitadas pelos sacerdotes de Parom para mais uma benção.
Durante o dia todo, são ofertados pequenos jarros de argila ou colares a Parom, que são queimados em grandes jarros de ferro perante um altar.
Maira é a mãe afetuosa que a tudo lhe atende. Tratado com mimos como se ainda fosse uma criança.
Entre Blator e Parom existe uma grande tensão, tendo como principal motivo o amor deste por Lena. Parom acredita ainda que parte dessa antipatia é por causa de sua posição: ser filho de quem é, ou então pode ser uma certa inveja do respeito que Parom conquistou entre os filhos de Blator, os Anões.
Com Lena, tem um relacionamento amoroso que já dura milênios. A pedido desta, fez um manto mágico que permite que ande secretamente sem ser vista por qualquer deus.
Diz ela que é para surpreender sempre Parom quando se aproxima.
Com os demais deuses têm uma relação cordial e amigável sendo respeitado e respeitando a todos. Sua amizade com Crizagom é singular.
Sem o devido cuidado e bênção de Parom, produtos são feitos de má qualidade e seus valores no mercado diminuem.
Neste mundo onde as coisas são tão momentâneas, os sacerdotes levam a palavra de carinho e de transformação, mostrando que a carne é somente uma morada provisória e que todos, apesar de diferentes, são moldados pelo mesmo amor e compaixão dos deuses.
A verdadeira forma que terão é pelo amor aos seus pais celestiais e aos seus irmãos em vida, cabendo a todos a procura da felicidade e da mudança interior em favor do bem.
A cor externa dos templos é um laranja muito forte o que o destaca das construções próximas. Uma das características mais marcantes destes templos é uma torre central que parte da abóboda do telhado.
Na torre, existe sempre um lindo sino de prata usado para chamar os fiéis para a oração da tarde.
O altar dedicado a Parom fica voltado de costas para o norte e a frente dele sempre existe uma pequena urna de madeira onde os fiéis podem deixar pequenas oferendas ou ainda objetos que simbolizem a graça alcançada.
Na casa ou nas oficinas de artífices, sempre existe um pequeno santuário com oferendas que vão de pequenos montinhos de argila até flores.
Já nos grandes centros comerciais, sempre há um santuário externo colocado no alto das principais vias comerciais, buscando prosperidade para aqueles que lá trabalham e produzem as mercadorias.
Usam ainda sandálias ou botas feitas em couro e uma pequena lanterna simbolizando a luz de Parom, que leva conhecimento aos ignorantes.